quinta-feira, 29 de março de 2012

Falta de Lítio ou Problema de "lítio baixo"

Diversas vezes ao longo da prática clínica diária, recebi pacientes que diziam que seu problema (geralmente psíquico) era devido a "falta de lítio" em seu corpo. Resolvi escrever este post para esclarecer aos leitores sobre o funcionamento do lítio em nosso organismo.

O lítio (um metal alcalino que pertence ao grupo Ia da tabela periódica) foi introduzido na medicina como substância terapêutica por Garrod, em 1863. Contudo, águas e suspensões com elevado teor de lítio haviam sido utilizadas durante centenas de anos como "curas" para variadas doenças. Nos anos 20, o lítio era usado como anti-epiléptico e tonificante geral e o brometo de lítio como hipnótico. Nos anos 40, usava-se cloreto de lítio como um substituto do Cloreto de Sódio para doentes cardíacos que necessitavam controlar a ingestão de sódio. A sua utilização foi suspensa quando se descobriu a extrema toxicidade do lítio em presença de baixos níveis de sódio. A eficiência do lítio no tratamento de desordens maníacas reporta-se a Cade, em 1949. Esta aplicação do lítio foi rapidamente aceita na maioria dos países europeus. Contudo, só nos anos 70 é que o carbonato de lítio foi comercializado nos Estados Unidos para o tratamento da fase maníaca do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB).

Fonte:
http://www.ordembiologos.pt/Publicacoes/Biologias/4_Litio%20--%2020Abr05.pdf

Feita essa breve introdução sobre o lítio, vamos ao assunto principal: "problema de lítio baixo". É importante deixar claro que nosso organismo não retém o lítio que está presente nos alimentos. Dessa forma, todo o lítio proveniente de nossa dieta é excretado (pois não é utilizado pelo nosso corpo). Assim, qualquer pessoa que for submetida a uma dosagem de lítio (litemia) certamente terá doses baixas de lítio no corpo a não ser que esteja fazendo um tratamento com medicamento a base de lítio.
Então, por que se faz exame de lítio?
A única indicação plausível de realizar uma litemia é para pacientes que usam lítio. Parece simples mas, na verdade, isso causa uma grande confusão entre alguns pacientes. O lítio tem sido utilizado com sucesso no tratamento de alguns distúrbios psiquiátricos sendo a sua principal indicação o TAB tipo I. Os pacientes portadores de TAB geralmente sofrem períodos de depressão alternados com períodos de euforia (mania). Assim, é comum vermos pacientes “aparentemente depressivos” fazendo o uso de lítio. Talvez essa seja uma das principais fontes da confusão em torno do lítio. Muitos pacientes acreditam que são depressivos por apresentarem uma baixa quantidade de lítio no sangue. Na verdade não existem exames laboratoriais que possam determinar se uma pessoa está ou não com depressão. O uso do lítio não se dá como uma terapia de reposição (ou seja, repor o lítio faltante para sanar um determinado problema decorrente dessa falta). É mais correto considerá-lo como uma terapia medicamentosa (como qualquer outro remédio). Usa-se lítio para “combater” uma doença. Pensar que a falta de lítio causa alguma doença é um erro.


Daniel Medeiros - Médico Psiquiatra CAPSII - Jaraguá do Sul/SC

1 comentários:

Parabéns ao Dr. Daniel Medeiros pelo excelente artigo sobre o uso do Lítio e suas implicações no TAB. Há anos venho buscando encontrar um equilíbrio diante de minhas crises de mania e depressão. Quando recebi o diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar, em 2002, mesmo apresentando sintomas pertinentes de mania e depressão há muitos anos, pensei que o mundo fosse cair em cima de mim. Hoje faço uso do Zyprexa (olanzapina), de Tofranil e de Lítio como forma de controlar minhas crises duais. O uso do clonazepan também serve como coadjuvante no tratamento. Estou ansioso para conversar com o Dr. Daniel, dia 20, sobre essa medicação. Parabéns aos responsáveis pelo blog do CAPS II. Estou adorando os posts.

Cordialmente

Charles Piero Siemeintcoski - charles.1974@uol.com.br

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