segunda-feira, 14 de maio de 2012

Uma mente inquieta


Charles Piero Siemeintcoski, de Jaraguá do Sul, fez uma ótima resenha do livro Uma Mente Inquieta, da autora Kay Redfield Jamison. Confiram na íntegra aqui no nosso blog!

Uma Mente Inquieta – Kay Redfield Jamison

Resenha

Dotada de uma linguagem um tanto que poética e um pouco inusual, a médica norte-americana Kay Redfield Jamison retrata com extremo detalhe a luta travada contra a então chamada Psicose Maníaco-Depressiva (PMD), hoje conhecida como Transtorno Afetivo Bipolar (TAB). Ao escrever o livro “Uma Mente Inquieta”, da editora WMFmartinsfones, Kay Jamison discorre sobre o comportamento dialético entre a euforia patológica e a depressão, manifestações próprias desta doença. Rico, cercado de detalhes sobre a bipolaridade, Kay narra de forma expressiva sobre uma das doenças psiquiátricas mais comuns em nossos dias, o que tem levado a ciência a estudar e produzir novos medicamentos para combater as crises bipolares. Kay oferece ao leitor um rico compêndio sobre a TAB. Seu primeiro surto (crise psicótica) foi aos 17 anos. Desde então, sua história de vida e o diagnóstico da doença se fundem em um ritual não só tirano, sofrido e palpável à autora, mas também como um fator determinante à escolha de sua carreira como médica e sua posterior especialização em psiquiatria.
Aqui cabe um adendo um tanto que pessoal. Como paciente e portador do TAB (não estou informando sobre este meu problema como meio de autopiedade, mas apenas como forma de enriquecer o conteúdo dessa resenha), deparei-me ao longo de anos com alguns psiquiatras que não acham necessário sessões de psicoterapias (emprego este termo como um conjunto das técnicas que visam ao tratamento das moléstias mentais por persuasão, sugestão, psicanálise, atividades lúdicas ou de trabalho) como fator coadjuvante no processo de tratamento medicamentoso. No entanto, servindo como contraponto, foi graças à abordagem psicoterapêutica que levou Kay a se manter viva, como ela mesma escreve, mesmo em suas tentativas de suicídio, que ocorrera logo no começo do tratamento medicamentoso. "Era essa a tarefa e o dom da psicoterapia” (pág. 105), escreve a autora.
Há algumas décadas, o uso do Lítio (medicação normalmente prescrita pelos psiquiatras como estabilização do humor) era concentrado em doses mais elevadas. kay lembra que em muitas oportunidades, as dosagens de Lítio causavam intoxicação e seus efeitos colaterais eram tremedeira, perda de coordenação motora, visão embaraçada, perda de concentração, atenção e memória.
O uso de estabilizadores de humor, prescritos pelos psiquiatras ante o TAB, pode trazer alguns efeito psicológicos estranhos para algumas pessoas. Assim como Jay, sou viciado nos humores ascendentes. Já deixei de tomar os medicamentos justamente para me sentir mais eufórico e "curtir" o momento sobre-exaltado. Quando se está em mania (euforia), a mente e o corpo parecem se fundir à maneira de uma Sinfonia número 9 de Beethoven, tamanha o vigor e a energia mental que flui nestes momentos. Estar em mania, assim como Kay descreve no livro, "é relativizar a moral", não acreditando muito na capacidade de discernir o certo do errado. Mas não fiquem assustados, prezados leitores, com essa informação. Ela é utilizada aqui apenas para relatar o "potencial" de uma "Mente Inquieta".
Já nos períodos de profunda depressão, Kay lembra as saudades dos livros e das perspectivas de começar novos estudos e pesquisas, tão próprio na área da medicina. Agora, faço a adversão: quando se está "deprê", como se diz na gíria, a vontade mental é ínfima. É como se não houvesse "vida neural". Há um desgaste físico muito profícuo.
Portanto, "Uma Mente Inquieta" é um livro para médicos, pessoas que trabalham na área da saúde, pessoas com familiares que possuem o TAB e para todos aqueles interessados no tema.

Por Charles Piero Siemeintcoski - charles.1974@uol.com.br

Livro: Uma Mente Inquieta
Editora: WMFmartinsfones
Autora: Kay Redfield Jamison
Preço Sugerido (site Saraiva): R$ 29,90

4 comentários:

Charles, achei muito boa a tua resenha. na verdade achei melhor ainda quando colocaste a tua opnião pessoal. Muito obrigado por enriquecer nosso blog com suas idéias.

Daniel Medeiros - Médico Psiquiatra

Parabéns Charles! Ainda não nos conhecemos pessoalmente, mas tenho muita vontade que isso aconteça em breve...sou a Coordenadora da Saúde Mental aqui de Jaraguá do Sul e fiquei emocionada em ver esta troca que está ocorrendo pelo Blog...estamos conseguindo materializar os vínculos e a horizontalidade das relações tão apreguadas pela Reforma Psiquiátrica e a Política de Humanização do SUS...Um abraço e até breve!

Denise Thum

Prezado doutor Daniel Medeiros, prezada coordenadora do CAPS Denise Thum, psicóloga Camila e demais integrantes do CAPSII, primeiramente, obrigado pela postagem da minha singela resenha sobre o livro. Quero aproveitar a oportunidade para pedir desculpas pela minha ausência no dia de ontem, segunda-feira(15), quando fiquei de me reunir com os integrantes responsáveis pelo blog, para tratar de temas relacionados ao dia antimanicomial e outros assuntos de interesse do CAPS. Tive um problema de saúde e não pude ligar com antecedência. Em alguns momentos, tento lugar com minhas fobias sociais, mas juro que nem sempre consigo. Estou em falta com vocês. Prometo ligar e conversar com a Camila e com o médico dr. Daniel. Peço-lhes milhões de desculpas. Não quero passar uma noção de autopiedade. Pelo contrário. Relato porque preciso de ajuda. Um abraço e conte comigo.

Charles Piero Siemeintcoski - charles.1974@uol.com.br

Charles, não se desculpe por isso, você já está fazendo a diferença! Parabéns pela sua resenha e pela iniciativa de estudar sobre a sua doença! Nossa parceria não terminará aqui!
Abraços,
Carolina

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